Visitantes aprovam nova proposta expositiva no Solar do Barão de Jundiaí
Desde a reabertura do Solar do Barão na última semana, o Museu Histórico e Cultural de Jundiaí – sediado no tradicional casarão da família Queiroz Telles – tem contado com a presença e aprovação de diversos visitantes, interessados em apreciar sua arquitetura, resgatar memórias afetivas ligadas ao local e observar os detalhes que passam despercebidos quando há outras exposições em cartaz.
Percorrendo suas instalações – antes cômodos da casa familiar e hoje resumidas em cerca de 15 salas expositivas -, os visitantes podem observar cada detalhe e contar, ainda, com o apoio de equipe do Departamento, para recepção e acompanhamento durante a visita.
O diretor do Departamento de Museus, Paulo Vicentini, explica a proposta. “Após as exposições sobre o Holocausto e de Presépios, a reabertura do Solar sendo ele próprio a exposição faz parte de uma programação escalonada de atividades para este semestre. Neste momento, o visitante pode fazer a visita por conta ou ser acompanhado pela equipe do Departamento. Em seguida, o receptivo será composto por atores locais, com figurino de época, a fim de proporcionar uma experiência diferenciada aos visitantes. E tudo isso culminará na exposição que ficará em cartaz ao longo do ano, sobre a Jundiaí dos períodos Colonial e Imperial, e que irá abordar diversos aspectos da vida local neste recorte temporal, como, por exemplo, as atividades econômicas, a vida religiosa, os enterramentos e a chegada dos imigrantes, da ferrovia e da indústria.”
O gestor de Cultura, Marcelo Peroni, reforça o papel da Prefeitura na preservação do imóvel. “Vale destacar que este prédio é a sede do Museu desde 1982, mas, até dezembro de 2020, continuava sendo propriedade da Associação das Irmãs Vicentinas, herdeiras do prédio. Graças a uma permuta sem custos, a Prefeitura passou naquela data, finalmente, a ser a proprietária do Solar, novidade importante para a sua manutenção e preservação patrimonial.”
Detalhes e histórias
Além da apreciação dos detalhes e da arquitetura, um dos destaques comentados pelos visitantes são as famosas “lendas urbanas”, informações difundidas acerca do Solar e que foram refutadas pelas pesquisas historiográficas. A primeira delas diz respeito ao prédio ser a residência do Barão – título dado a Antonio de Queiroz Telles, o moço – quando, na realidade, o imóvel se tratava de propriedade para uso veraneio, tendo se tornado residência somente para gerações futuras da família.
Outra história frequentemente trazida pelos visitantes é acerca do porão do imóvel, onde o imaginário popular acredita ter sido usado como senzala para escravizados. Apesar de a presença de grades para circulação de ar visíveis na fachada do prédio na rua Barão reforçar a crença popular, o vão subterrâneo e a ventilação integravam um antigo sistema que mantinha a qualidade do madeiramento no piso.
Os próprios jardins, imaginados por muitos como uma versão versalhesca criada pela família aristocrata, não passavam de um quintal de terra batida, horta, chiqueiro e galinheiro dos então moradores, e que tomaram sua característica atual somente na década de 1970, pelas mãos da Prefeitura e idealização do arquiteto Antônio Panizza para o passeio dos pedestres entre as ruas Barão e Rangel Pestana.
E, para finalizar, talvez o maior dos temas abordados pelos visitantes: a famosa história da visita de Dom Pedro II e de seu pernoite na cama do Barão. História refutada pela análise da cobertura jornalística da época, que comprova ter sido curta a estadia do imperador no local, para comer o “pequeno almoço” – café-da-manhã, no Português da época –, após ter desembarcado na estação ferroviária em viagem pelo interior paulista.
O pedreiro Claudio de Godói, morador da vila Hortolândia, visitou o Museu na última semana sem saber da novidade e, após o que considerou um susto inicial, compreendeu e aprovou a proposta. “Estava aqui pelo Centro e decidi visitar o Museu, pois gosto de apreciá-lo. Foi quando me perguntei – assustado – ‘Por que tiraram o seu acervo?’. Mas agora entendi e aprovei a proposta. Quando você visita o lugar cheio, você não presta atenção nos detalhes e na arquitetura. Achei bacana.”
A assistente administrativa Vitória Caralho também visitou o Museu na semana passada, aproveitando para fazer um passeio cultural. “Fomos à Pinacoteca e de lá viemos ao Museu. Quando entrei pensei que tinha alguma coisa errada e quase dei meia-volta e fui ao jardim. Mas o monitor nos explicou e mudei de ideia. Me lembrei de quando estive aqui com a escola e quando vim da última vez, para ver a exposição do Holocausto. Gostei demais desta proposta: fazer o casarão virar a exposição”, comentou a moradora da vila Arens.
Acompanhando Vitória, Gabriel Mazzucatto, morador da Malota, também aprovou a proposta. “Sou estudante de Artes Visuais e sempre observei o Solar do ponto de vista arquitetônico e artístico, mas alguns detalhes não apareciam, ficavam por trás do que estava exposto. As explicações que ouvi humanizaram o espaço para mim e ver o cuidado da Prefeitura em sua preservação parece que fez com que o Solar, antes tão mais antigo e distante na minha imaginação, se tornasse mais recente e mais próximo para mim”, comentou o estudante.
Todo o acervo do Museu encontra-se guardado em sua reserva técnica, sob a tutela do Arquivo Histórico Municipal da UGC.
O Museu fica na rua Barão de Jundiaí, 762 – Centro e funciona de terça-feira a domingo, das 10h às 17h, com entrada gratuita. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 4521-6259.